A ÚLTIMA A SER ESCOLHIDA

Alguns dos alunos onde trabalho me fazem lembrar da minha época de escola. Me fazem lembrar de mim mesma naquele tempo.

Eu sempre fui aquela aluna mediana, introvertida e que não revelava minhas verdadeiras habilidades. Sabe do que eu mais lembro? De ser a última a ser escolhida. De ser sempre aquela que a professora tinha que encaixar em algum grupo.

Eu odiava trabalhos em grupo. Os colegas que tinham que me aturar no grupo faziam cara de desgosto, “ah, ela não”! Desde a primeira série até o último ano do ensino médio foi assim. Ninguém gostava de mim e eu não gostava deles, mas tinha que me socializar. Eu estava na escola pra aprender não apenas os conteúdos, mas também pra conviver em sociedade.

No ensino fundamental eu era muito boa em jogar queimada. Era uma das poucas atividades em educação física que eu gostava. Era uma das últimas a sair do jogo, mas era a última a ser escolhida pelos colegas (a que restava) e como isso me frustrava. Eu pensava: Eu sou boa nesse jogo, mas por quê não me escolhem logo?

Por vezes me diminui achando que eu era o problema. Achando que não era capaz ou não era boa o suficiente. No fundo eu queria ser reconhecida. Mas tudo que consegui era ser a última a ser escolhida. Eu tinha amigos sim, mas mesmo eles não viam muita coisa em mim, eu entendo. Afinal, eu não revelava o quão inteligente eu era, nem boa em algo.

Já no ensino médio foi pior. Adolescentes, sabe?! Alguns se destacavam pela beleza, outros pela inteligência, outros nos esportes… E eu não destacava em nada. Se não respondesse presente na chamada nem mesmo os professores saberiam que eu estava lá. Eu não me importava em ser “invisível”. O que me frustrava era fazer parte de algo e ninguém perceber minhas habilidades. Como assim eles não veem que sou boa com as palavras escritas? Como assim não percebem que sou melhor nessa matéria do que na outra? São tão ignorantes assim ou só querem me deixar de lado?

Lembro que uma vez o professor de inglês deu uma prova em dupla e ele me colocou com um aluno muito metido. Nitidamente ele estava chateado por não fazer par com uma de suas amigas. A panela perdeu a tampa. Sabe o que me irritou? Não foi o fato de sentar com ele. Eu realmente não me importava com quem o professor me colocava. Foi ele supor que eu não sabia nada da matéria, não me deixar fazer nada e ainda colar na prova porque as amigas estavam sentadas atrás de nós. Resultado? O pior. Tiramos uma nota baixa e ele riu e disse: “Eu nem precisava de ponto mesmo, já passei”.

Tive vontade de puxar ele pelos cabelos. Eu precisava de pontos. Sabia a matéria melhor do que eles. E acharam que por estar sempre tirando notas altas eram melhores do que eu? Ah, me poupe! Ainda bem que esse tempo já foi. Eu era boba demais. Não tinha uma autoestima saudável, tinha dificuldade em dizer o que realmente sentia ou pensava. Deixava minha própria vida à deriva.

Hoje quando vejo os alunos na escola onde trabalho eu até acho graça. Quando os vejo frustrados digo que vai ficar tudo bem e que numa próxima vez eles se sairão melhor. Faço o melhor que posso pra que a autoestima deles não seja prejudicada. Brinco, cuido, ensino, corrijo, e falo sobre suas habilidades. Não quero vê-los se diminuindo, nem se autodestruindo como muitas vezes eu fiz.

Quero que eles sejam felizes. Quero que olhem pra si mesmos e veja o quão inteligentes e capazes eles são. Porque eles são.

Quando digo que vai ficar tudo bem e que numa próxima vez eles se sairão melhor, não estou mentindo, nem reconfortando. Estou dizendo a verdade por experiência própria. E estou dizendo pra mim mesma. Cada dia a gente pode melhorar um pouquinho. Não se preocupe, vai ficar tudo bem, acredite! 😉

Foto: Pixabay/pexels

O QUE EU NÃO RESOLVO, ACABO POR REPETIR

“Tudo aquilo que eu não resolvo eu tenho que repetir.” Essa foi a frase que ouvi da professora de matemática do 6º ano da sala onde fico a tarde. E comecei a refletir sobre ela. É uma verdade não somente para a matemática, mas para a vida.

Tudo aquilo que eu não resolvo tendo a repetir, por exemplo, a procrastinação. Se eu não resolvo esse problema, logo me vejo sempre repetindo o erro de deixar o que eu tiver de fazer para depois.

Se eu não resolvo problemas emocionais vou acabar criando um padrão de repetição (que não desejo), mas acaba se tornando um hábito.

Você já teve aquela sensação de fracasso na vida? Aquele pensamento de que parece estar cometendo sempre os mesmos erros e não saindo do lugar? Pois é, eu também já. E isso se deve a questões não resolvidas ou mal resolvidas.

Quando eu não tinha uma autoestima saudável, nem sabia como me amar, eu era uma pessoa extremamente carente e instável. E ao me relacionar afetivamente, logo eu me via dependente daquela pessoa o que era prejudicial e perigoso. Eu repetia o padrão de dependência, de aceitar qualquer coisa por aquele relacionamento porque achava que precisava disso mais do que qualquer coisa na vida.

Por não resolver um problema emocional (da autoestima, do amor próprio) eu repetia um padrão de comportamento em todos os meus relacionamentos. Quando eu finalmente resolvi eu parei de viver um ciclo de repetição. Parei com os erros e com os excessos que me prejudicavam. Parei com a autossabotagem e não olhei mais para a superficialidade.

Se algo está dando errado significa que a gente deixou de aprender a lição. É preciso olhar com muita atenção, fazer uma autoanálise e enxergar o problema real para conseguir resolver e quebrar de vez o ciclo vicioso.

Tenha isso em mente. “Tudo aquilo que eu não resolvo eu tenho que repetir”.

Foto: Monstera/pexels