O QUE EU NÃO RESOLVO, ACABO POR REPETIR

“Tudo aquilo que eu não resolvo eu tenho que repetir.” Essa foi a frase que ouvi da professora de matemática do 6º ano da sala onde fico a tarde. E comecei a refletir sobre ela. É uma verdade não somente para a matemática, mas para a vida.

Tudo aquilo que eu não resolvo tendo a repetir, por exemplo, a procrastinação. Se eu não resolvo esse problema, logo me vejo sempre repetindo o erro de deixar o que eu tiver de fazer para depois.

Se eu não resolvo problemas emocionais vou acabar criando um padrão de repetição (que não desejo), mas acaba se tornando um hábito.

Você já teve aquela sensação de fracasso na vida? Aquele pensamento de que parece estar cometendo sempre os mesmos erros e não saindo do lugar? Pois é, eu também já. E isso se deve a questões não resolvidas ou mal resolvidas.

Quando eu não tinha uma autoestima saudável, nem sabia como me amar, eu era uma pessoa extremamente carente e instável. E ao me relacionar afetivamente, logo eu me via dependente daquela pessoa o que era prejudicial e perigoso. Eu repetia o padrão de dependência, de aceitar qualquer coisa por aquele relacionamento porque achava que precisava disso mais do que qualquer coisa na vida.

Por não resolver um problema emocional (da autoestima, do amor próprio) eu repetia um padrão de comportamento em todos os meus relacionamentos. Quando eu finalmente resolvi eu parei de viver um ciclo de repetição. Parei com os erros e com os excessos que me prejudicavam. Parei com a autossabotagem e não olhei mais para a superficialidade.

Se algo está dando errado significa que a gente deixou de aprender a lição. É preciso olhar com muita atenção, fazer uma autoanálise e enxergar o problema real para conseguir resolver e quebrar de vez o ciclo vicioso.

Tenha isso em mente. “Tudo aquilo que eu não resolvo eu tenho que repetir”.

Foto: Monstera/pexels

VERDADES ESPELHADAS

O que mais te incomoda no outro, geralmente é um reflexo de si mesmo. Parece absurdo, né? Mas é uma verdade espelhada.

Quanto mais a gente julga o outro mais somos parecidos com o outro.

As pedras que lançamos no telhado do vizinho um dia caem sobre nosso telhado porque na verdade estamos todos sob o mesmo teto.

Sua vizinha te vigia pela janela, ouve atrás da porta pra ter o que fofocar? Pois é, mas será que eu e você já não fizemos o mesmo?

O governo é corrupto? Pois é, mas será que é só governo? Quantas vezes eu e você também não fomos corruptos? Viemos de uma história, de uma cultura marcada pela corrupção. E isso leva tempo pra ser mudado.

Fulano é mentiroso? Hum… Entendo. A mentira é algo intolerável, né? Pois é, mas será mesmo que eu e você dizemos sempre a verdade? Não mentimos nunca? Nem uma vez sequer? Uma “mentirinha branca” pra nos proteger, pra não ferir ou qualquer outra desculpa que a gente acha necessária?

Ah! Aquela pessoa realmente te incomoda, né? Até a respiração dela te irrita… A verdade é mais simples e óbvia do que se possa imaginar, mas somos nós que fingimos de cegos. O que mais nos incomoda no outro é apenas um reflexo de nós mesmos e isso nos inquieta, nos envergonha e nos deixa em déficit com a vida.

É fácil apontar o dedo para o outro, culpar o outro, criticar o outro.

Difícil é se olhar no espelho e encarar as verdades que a gente insiste em ignorar.

O outro é tão humano quanto eu e você.

Eu e você somos tão sujeitos a quedas, tão vulneráveis e suscetíveis ao mal quanto o outro é.

Vivemos num mundo que está sempre lançando críticas, está em constantes debates filosóficos na busca por uma “sociedade melhor e racional”. Querem erguer a bandeira da “liberdade, igualdade e fraternidade” massacrando o próprio povo.

Querem um mundo melhor, racional, mais humano, mas continuam a zombar, discriminar, exilar os que pensam e vivem de maneira diferente. Isso é desrespeito.

Eu costumava a desejar a morte dos outros. Por exemplo, para os criminosos. Aqueles casos odiosos que a gente vê nos jornais. Então, me via sendo a favor da pena de morte. Até que um dia eu pensei: Apesar de tudo essa pessoa é filho(a) de alguém. Essa pessoa pode não ser importante pra mim, mas é importante pra alguém. Eu não tenho domínio sobre o futuro. “Bandido bom é bandido morto”, mas o bandido de amanhã pode ser meu filho, eu vou ficar feliz com a morte dele apesar de tudo?

Foi aí que as escamas caíram dos meus olhos e eu pude entender que todo e qualquer ser humano é falho. Que realmente a “ocasião é que faz o ladrão”. Somos humanos e é exatamente por isso que somos sim capazes de qualquer coisa. Dos atos mais simples e bons aos mais violentos e cruéis. Do bem e do mal. Tudo depende da situação. Realmente é “a ocasião que faz o ladrão”.

Você acha que é uma pessoa de bem por não ter preconceito com isso ou aquilo, mas vasculhe direito e verá que tem sim preconceitos por outras coisas.

Você acha que é uma pessoa de bem porque não rouba? Mas vasculhe direito sua alma, sua vida e verá que já roubou. Ainda que inocentemente.

Você acha que é uma pessoa de bem porque não é capaz de matar? Você é capaz de matar e sob a circunstância certa muito provavelmente vai matar, ainda que seja em legítima defesa.

Ninguém é 100% mal. Assim como ninguém é 100% bom. Em nós há bondade e maldade. O grau é que é diferente. Assim como o teor alcoólico de uma bebida é de acordo com a quantidade ou porcentagem de etanol nela contida, assim é o grau de bondade ou maldade em nós. Depende da quantidade que colocamos.

O pior que vemos no outro é apenas um reflexo de nós mesmos.

Não é só outro que tem que ser exposto em praça pública, nós também precisamos ser.

Examine cada um a si mesmo e veja suas próprias verdades, suas fragilidades, as áreas vulneráveis, as falhas, os erros de conduta, a própria maldade, a bondade, a luz, as verdades e as mentiras que há dentro de si.

Exponha cada um a si mesmo. Deixe sua alma despida e enxergue seu verdadeiro eu.

Quando a gente fizer esse tipo de análise (autoanálise) estaremos prontos para construir esse mundo melhor, mais digno, racional, e mais humano dentro de cada um e então, transparecer para o exterior.

Porque a verdadeira mudança acontece sempre de dentro para fora e não ao contrário.

Foto: Jenna Hamra/pexels