DELES É O REINO DA PSIQUIATRIA

“Felizes os que são transparentes, pois deles é o reino da saúde psíquica e da sabedoria. Infelizes os que escondem suas mazelas debaixo da cultura, dinheiro e prestígio social, pois deles é o reino da psiquiatria.” (Trecho do livro O Vendedor de Sonhos e A Revolução dos Anônimos).

Recentemente fui a uma psiquiatra e ela me disse que os problemas mentais ou transtornos como o pânico, a ansiedade não vem de uma hora pra outra. Que a verdade é mais simples. É um copo que vai enchendo de água e que por um descuido a gente deixa transbordar.

Quando li esse trecho desse livro e relembrando das palavras da psiquiatra comecei a refletir. Meus transtornos não vieram da noite pro dia. Em algum momento eu deixei “a água transbordar”. E foi justamente a falta de transparência que fez tudo desmoronar.

Por que será que estamos vivendo de maneira tão superficial? Parece que tudo suga nossa energia, nossa vitalidade. Felizes os que são transparentes, ou seja, aqueles que falam sobre suas emoções, seus problemas e dificuldades, os que se alegram e são gratos por tudo, pois sabem que a vida é um bem precioso demais para se ignorar.

Infelizes somos nós os que se fazem de fortes escondendo suas dores e mazelas. Enterrando segredos, gritos silenciosos no mais profundo do nosso ser. Escondendo, camuflando ou até mesmo negligenciando os problemas. Uma hora eles vem à tona. É quando se tornam grandes demais, pesados demais pra se lidar sozinhos.

Saúde mental não é definitivamente a ausência de problemas, mas saber lidar com eles de forma racional.

Você quer viver no reino da saúde mental ou da psiquiatria?

Peça ajuda quando não conseguir seguir em frente, quando não encontrar a solução dos seus problemas. Saia da rotina de vez em quando. Pratique atividades físicas e meditação. Faça terapia. Adote novos hábitos (saudáveis). Pratique um hobbie (pintura, música, desenho…). Aprenda a desacelerar. Caso contrário, terá uma farmacinha em sua casa e mais transtornos pra lidar.

Temos que aprender a sermos transparentes. Dizer sim e não quando necessário. Falar a verdade ainda que doa. Pedir ajudar e falar dos problemas não é sinal de fraqueza. Pelo contrário, é preciso muita coragem e força pra pedir socorro. Não deixe que seu passado contamine seu presente. Não permita que as palavras negativas roubem sua alegria e vontade de viver.

Saúde mental não é algo nato do ser humano. É um processo. São as pequenas decisões que tomamos para nos libertar de todo mal que nos assola. Não é algo que alguém nasce com ela e sim algo que se aprende ao longo da vida.

Não desista da sua vida por mais difícil que ela seja! Não desista da sua saúde! Você é importante. ❤

Foto: Cottonbro

CRIANÇAS PRECISAM DE ATENÇÃO E CARINHO

Ele é um garoto autista de 9 anos com uma inteligência excepcional. Um tanto quanto rabugento, eu confesso. E ele mesmo reconhece. Mas ontem ele me surpreendeu não pela qualidade do seu vocabulário que é fantástica, nem pelo seu dia de “bom humor”, mas por sua aproximação.

Ele raramente interage, pois o social dele não é tão desenvolvido como a gente gostaria que fosse. O que ele mais gosta é assistir os vídeos do “O rei leão”. Ontem após o recreio ele pediu pra assistir e eu deixei.

Desci com ele e o outro aluno que fico para o pátio da escola pra que ele pudesse ver os vídeos. Sentamos na arquibancada e ele foi se aproximando de mim e falando sobre o rei leão. Me perguntou quais as cenas que eu mais gostava ou qual versão do filme eu preferia. Percebi que ele se sentou tão perto de mim que era como se quisesse colo.

Eu estou acostumada com o contato físico do meu aluno que também é autista, porém com o lado social mais desenvolvido. Ele gosta de abraçar, sentar perto e até senta no meu colo vez ou outra. Já o outro é “de poucos amigos”, sabe?

Foi quando ele me surpreendeu. Ele pôs o meu braço em volta do seu pescoço e se recostou em mim como uma criança pequena faz quando quer colo e quer se sentir segura. Assim ele ficou. Ficou bem à vontade e feliz assistindo seu vídeo favorito.

Conversamos muito. Tinha outro aluno que estava no pátio e não queria ficar em sala. E eu disse que aquele aluno estava muito teimoso, desobediente e que não era legal o que estava fazendo. Ele reconheceu e disse que também tinha dias que ele ficava assim, mas que hoje ele não estava nervoso.

Só então percebi algo que não tinha me dado conta devido ao seu “mal humor” de quase todos os dias. Ele também quer e precisa de atenção e carinho. Ele sabe como eu ajo com o aluno que eu fico e está sempre observando. Ele também tem sentimentos, emoções e laços que deseja fazer. Por debaixo de todo aquele mal humor, por trás daquela cara de bravo e jeito meio grosseiro de falar, ele quer se conectar, quer fazer parte, quer se sentir amado e protegido.

Para a minha surpresa ele me abraçou e sorriu mais vezes do que já pude ver. Ele permitiu que eu interagisse com ele. E até interagiu com os dois alunos que estavam no pátio com a gente. Ele e o outro aluno passaram 30 minutos deitados no meu colo, agarrados a mim como se eu fosse a pessoa mais importante, confiável e segura pra eles.

Foi quando percebi que preciso ser mais paciente. Que preciso enxergar além das camadas externas (das aparências). Que por trás de toda pessoa existe uma história. E que todos querem se conectar, se expressar, se sentir amado, seguro. Todos querem proteção, amor, segurança e afeto. As crianças não são diferentes. Elas também querem atenção e carinho. Somos nós, os adultos que precisamos enxergar isso e trabalhar em nós a paciência, e novas formas de se comunicar.

Aquele abraço, aquele aconchego foi importante pra ele, mas foi ainda mais especial pra mim. Sua aproximação me deu uma importante lição sobre a função de educadora. Me trouxe um novo olhar, uma perspectiva diferente sobre paciência, referência e educação.

Aquele abraço expressou mais do que carinho, conforto ou apoio. Significou um “ei, eu também sou gente, tenho sentimentos e quero expressar da forma que sou”.

Posso confessar uma coisa? Foi a melhor coisa que me aconteceu. ❤

Foto: RODNAE Productions

A PROCURA SÓ EXISTE QUANDO HÁ INTERESSE

Quem nunca ouviu ou disse essa mesma frase várias vezes?

“Fulano só me procura quando quer alguma coisa.”

De fato, a maioria das pessoas nos procuram com segundas, terceiras e demais intenções. Mas nós fazemos o mesmo.

Todo mundo quer algo em troca. Todos querem um tipo recompensa. Somos humanos e precisamos dessas trocas, dessa dinâmica de interesse, de aproximação. É justamente delas que vem nossas conquistas sejam elas quais forem.

Todo relacionamento demanda algum tipo de troca. E não existe absolutamente nada nessa vida que não tenha um preço e uma consequência que vão sempre de acordo com nossas ações e reações.

Não acredita em mim? Veja por si mesmo.

Por que você se aproxima das pessoas? Qual o motivo por trás das suas ações?

Elas não são do nada. Até a caridade tem algum tipo motivação.

Eu acreditava que o problema era o interesse. A pessoa te procurar por isso ou aquilo outro. O verdadeiro problema não é o interesse e sim a motivação dele.

Por exemplo, alguém que te procura porque está carente. Ela não te procurou porque sente sua falta ou gosta da sua companhia, da sua conversa, das suas ideias. Ela te procurou porque está carente (não suporta ficar sozinha) e quando a carência dela for sanada, você não significará nada. A pessoa apenas te usou para preencher o vazio dela naquele momento seja de uma forma física ou emocional.

Outro exemplo, é quando alguém vem ao seu salão de última hora. Alguém que vem uma vez ou outra, mas em todas elas sempre quando ela não acha outro lugar disponível. Ela não procurou pela qualidade do serviço nem porque gosta do seu atendimento e sim porque não encontrou outro lugar e você foi a opção que restou. Você foi a última pessoa a ser lembrada e escolhida. Foi a última opção.

É, eu sei. Dá raiva mesmo. E muita.

E é por isso que estamos adoecendo. Por só pensar e enxergar como os outros nos usam.

Nós também já fizemos ou ainda fazemos o mesmo.

Não é o interesse que está errado e sim a motivação.

Qual a sua motivação?

Por que você faz o que faz?

Por que procura aquela pessoa?

Por que são amigos?

Por que você estuda? Por que trabalha? Por que atura quem você não suporta?

Por que visita esse lugar?

Por que vê essa gente?

Por que fica perto dessas pessoas?

Por que vai a igreja ou por que não vai?

Por que fez ou não fez isso ou aquilo?

Questionar nossos pensamentos, atitudes, emoções e reações. Questionar a gente mesmo antes de questionar o outro.

Se preocupar mais com a nossa vida, nossas ações, antes de querer opinar sobre a vida e as ações dos outros.

A gente deveria fazer bem o uso dos porquês não apenas na matéria de português, mas na vida. Pois são essas perguntas que nos aproximam mais da realidade e da verdade sobre nós mesmos. E a partir disso podemos corrigir ou ajustar nossa motivação. Também aprendemos a nos valorizar mais como pessoas e como profissionais, logo, aprendemos a deixar de ser o “quebra-galho”, “o último recurso” ou qualquer coisa que nos faça parecer desqualificados.

Qual a motivação por trás do seu interesse?

VERDADES ESPELHADAS

O que mais te incomoda no outro, geralmente é um reflexo de si mesmo. Parece absurdo, né? Mas é uma verdade espelhada.

Quanto mais a gente julga o outro mais somos parecidos com o outro.

As pedras que lançamos no telhado do vizinho um dia caem sobre nosso telhado porque na verdade estamos todos sob o mesmo teto.

Sua vizinha te vigia pela janela, ouve atrás da porta pra ter o que fofocar? Pois é, mas será que eu e você já não fizemos o mesmo?

O governo é corrupto? Pois é, mas será que é só governo? Quantas vezes eu e você também não fomos corruptos? Viemos de uma história, de uma cultura marcada pela corrupção. E isso leva tempo pra ser mudado.

Fulano é mentiroso? Hum… Entendo. A mentira é algo intolerável, né? Pois é, mas será mesmo que eu e você dizemos sempre a verdade? Não mentimos nunca? Nem uma vez sequer? Uma “mentirinha branca” pra nos proteger, pra não ferir ou qualquer outra desculpa que a gente acha necessária?

Ah! Aquela pessoa realmente te incomoda, né? Até a respiração dela te irrita… A verdade é mais simples e óbvia do que se possa imaginar, mas somos nós que fingimos de cegos. O que mais nos incomoda no outro é apenas um reflexo de nós mesmos e isso nos inquieta, nos envergonha e nos deixa em déficit com a vida.

É fácil apontar o dedo para o outro, culpar o outro, criticar o outro.

Difícil é se olhar no espelho e encarar as verdades que a gente insiste em ignorar.

O outro é tão humano quanto eu e você.

Eu e você somos tão sujeitos a quedas, tão vulneráveis e suscetíveis ao mal quanto o outro é.

Vivemos num mundo que está sempre lançando críticas, está em constantes debates filosóficos na busca por uma “sociedade melhor e racional”. Querem erguer a bandeira da “liberdade, igualdade e fraternidade” massacrando o próprio povo.

Querem um mundo melhor, racional, mais humano, mas continuam a zombar, discriminar, exilar os que pensam e vivem de maneira diferente. Isso é desrespeito.

Eu costumava a desejar a morte dos outros. Por exemplo, para os criminosos. Aqueles casos odiosos que a gente vê nos jornais. Então, me via sendo a favor da pena de morte. Até que um dia eu pensei: Apesar de tudo essa pessoa é filho(a) de alguém. Essa pessoa pode não ser importante pra mim, mas é importante pra alguém. Eu não tenho domínio sobre o futuro. “Bandido bom é bandido morto”, mas o bandido de amanhã pode ser meu filho, eu vou ficar feliz com a morte dele apesar de tudo?

Foi aí que as escamas caíram dos meus olhos e eu pude entender que todo e qualquer ser humano é falho. Que realmente a “ocasião é que faz o ladrão”. Somos humanos e é exatamente por isso que somos sim capazes de qualquer coisa. Dos atos mais simples e bons aos mais violentos e cruéis. Do bem e do mal. Tudo depende da situação. Realmente é “a ocasião que faz o ladrão”.

Você acha que é uma pessoa de bem por não ter preconceito com isso ou aquilo, mas vasculhe direito e verá que tem sim preconceitos por outras coisas.

Você acha que é uma pessoa de bem porque não rouba? Mas vasculhe direito sua alma, sua vida e verá que já roubou. Ainda que inocentemente.

Você acha que é uma pessoa de bem porque não é capaz de matar? Você é capaz de matar e sob a circunstância certa muito provavelmente vai matar, ainda que seja em legítima defesa.

Ninguém é 100% mal. Assim como ninguém é 100% bom. Em nós há bondade e maldade. O grau é que é diferente. Assim como o teor alcoólico de uma bebida é de acordo com a quantidade ou porcentagem de etanol nela contida, assim é o grau de bondade ou maldade em nós. Depende da quantidade que colocamos.

O pior que vemos no outro é apenas um reflexo de nós mesmos.

Não é só outro que tem que ser exposto em praça pública, nós também precisamos ser.

Examine cada um a si mesmo e veja suas próprias verdades, suas fragilidades, as áreas vulneráveis, as falhas, os erros de conduta, a própria maldade, a bondade, a luz, as verdades e as mentiras que há dentro de si.

Exponha cada um a si mesmo. Deixe sua alma despida e enxergue seu verdadeiro eu.

Quando a gente fizer esse tipo de análise (autoanálise) estaremos prontos para construir esse mundo melhor, mais digno, racional, e mais humano dentro de cada um e então, transparecer para o exterior.

Porque a verdadeira mudança acontece sempre de dentro para fora e não ao contrário.

Foto: Jenna Hamra/pexels