CRIANÇAS CRESCIDAS DA EJA

Recentemente a faculdade propôs que a gente elaborasse um texto sobre a importância das atividades na EJA. Era sobre a alfabetização e letramento de jovens e adultos. Na verdade, eu percebi o quanto nós (educadores) estamos despreparados para esse público.

O preconceito do famoso “supletivo” que hoje é uma modalidade de ensino (Educação de Jovens e Adultos – EJA) e que esses alunos são como “crianças crescidas” permeia a mente de alguns (senão muitos) profissionais da educação. Alfabetizar esses jovens e adultos como se fossem crianças não é uma postura adequada, ainda mais nos dias atuais.

Claro que alfabetizar é importante, mas o educador não pode ter a mentalidade de que os alunos da EJA são “crianças crescidas” e que basta aplicar atividades do ensino infantil que está tudo resolvido. Não é assim que funciona. Muitos desses alunos acabam desistindo de continuar os estudos por falta de preparo do professor que os vê de forma tão limitada. Esses alunos não são uma “tela em branco”. Eles possuem experiências, vivências significativas e que devem ser exploradas a fim de melhorar seu aprendizado, tornando a educação dinâmica entre aluno e professor. Dessa forma eles não vão ficar desanimados e nem com aquela sensação de “por que estou aqui se sou tão inferior?”.

Eles vão entender que o professor leva seu trabalho a sério e seus alunos também. O professor precisa entender a faixa etária, os interesses, e até o porquê seus alunos estão ali. Os alunos do EJA são muito diversificados não apenas em sua faixa etária, mas também nas suas experiências de vida. O educador, não deve, em hipótese nenhuma ignorar ou negligenciar os saberes existentes de seus alunos. Ele deve saber extrair o melhor dessas experiências, pois elas podem direcionar o professor na aplicação de uma metodologia mais adequada. Tornando a educação algo vivo, significativo, complementar e dinâmico na vida, na rotina dos estudantes. Porque é exatamente essa a essência da educação. Ela está em todos os lugares. Está presente nas escolas e fora delas também. Ler, escrever, contar e interpretar é fundamental tanto pra vida pessoal quanto pra vida profissional.

É através da educação que se emancipa um indivíduo. É através dela que o ser humano entende que independente de quem ele é ele tem sim um papel a exercer, que ele é sim importante na sociedade, no mundo em que vive e convive. Sua leitura de mundo não é inferior, não é descartável e ele é um cidadão completo que pode e deve exercer sua cidadania de forma íntegra e digna.

Essas “crianças crescidas” também ensinam, produzem, criam e transformam tudo com o que e quem interagem. Não menospreze o ensino seja ele formal ou informal, pois absolutamente tudo é aprendizado. Ninguém nasce sabendo e não se pode saber tudo por mais que a gente estude. A educação é mutável com o passar do tempo, mas ela é contínua, constante. Não existe o “aprender tarde”. Existe o aprender. O tarde mesmo só serve pra quem já morreu. Quem está vivo pode aprender e quem já aprendeu pode aprender mais ou pode aprender de novo.

Seja sempre uma pessoa que incentiva o aprendizado, o respeito, a autonomia, o conhecimento, o melhor que o outro possa ser, porque gente pra desmotivar, pra desprezar, pra inferiorizar o outro já tem demais no mundo, né?

Seja a sua melhor versão pra si e para o outro! ❤

Foto: Dimitri Dim

CONVERSA ALEATÓRIA E SEM NOÇÃO

Certo dia eu estava na van e acabei ouvindo uma conversa aleatória e muito sem noção de um homem que estava sentado ao lado de uma senhora (que tudo indicava ser a mãe dele). A conversa deu início quando uma mulher entrou com seu filho cadeirante e com deficiência múltipla. Essa mulher é bem conhecida e sua história também.

O homem estava contando a senhora que aquele era o segundo ou terceiro filho dela “daquele jeito”. Ele disse que os genes dela eram ruins e se não fossem os dela seriam os do pai da criança, já que todos os filhos nasceram defeituosos.

Ele disse que ela tinha que fazer testes genéticos antes de ter um filho. E foi falando mais um tanto de coisa. Quem ouvia a conversa ficava olhando com tristeza pra aquela mulher e pensando: “Coitado do menino (criança)!”.

Eu ouvi tudo aquilo, mas não tive coragem de interromper aquela conversa sem noção. Então, eu só pude ficar ali em pé, com cara de incomodada e muito indignada.

Totalmente sem noção! A mulher estava ali levando o seu filho para fisioterapia e provavelmente ouviu aquela conversa, mas ignorou.

Um teste genético? Sério? Deu vontade de perguntar aquele homem se antes de fazer sexo com namorada ou esposa ele pede um teste genético pra ela e ele também faz um. Afinal, se eles fazem sexo há uma grande chance de engravidar, né?

Geralmente as pessoas só querem o prazer, não a genética. Na “hora H” ninguém pensa em muita coisa, não é mesmo? Não pensam em doenças, em gravidez e muito menos em genética.

Teste genético? Você sabe quanto custa um teste genético pra saber a probabilidade de uma criança nascer saudável ou não? Aquela mulher usa transporte público ou vai a pé aos lugares, usa o SUS e outros meios públicos e gratuitos seja na área da saúde, educacional ou qualquer outra. O que significa que ela assim como muitos não tem uma vida financeira abastada. Ela passa por muitas dificuldades e não é só na área financeira.

O homem não reparou em sua cabeça raspada. O que sugere 2 coisas: Ela podia estar doente ou ela decidiu raspar por ser mais prático para o seu dia a dia. Pra mim, ela é uma mulher forte, bonita, amável e cheia de fé. Ela gerou filhos e os perdeu. Essa é a condição de pessoas que nascem com deficiência múltipla. Não vivem uma vida “normal”, comum como nós. Sua expectativa de vida é curta. No caso dela, ela já perdeu um filho quando ele tinha apenas 7 anos. A cadeira que o menino usava era do irmão que morreu.

Você acha que alguém pensa ou deseja ter um filho nessas condições? Ter um filho considerado normal, saudável já é bem difícil, requer responsabilidade, paciência e amor. Um filho com alguma deficiência requer um trabalho maior, mais árduo. O desafio é grande. Ninguém quer ter ou ser assim, mas às vezes acontece e não é culpa dos pais, nem da criança.

A gente não faz crianças num caldeirão. Não escolhemos os “ingredientes”. Elas vem do seu próprio jeito, com seu próprio e único código genético. E nenhuma delas é um acaso ou um acidente. Elas são um milagre. E nos ensinam mais do que nós a elas.

As crianças daquela mulher aos olhos dos outros eram dignas de pena, mas aos dela eram e são seus maiores presentes de Deus nessa terra. Independente de como vieram, elas não são dignas de pena. São dignas de amor.

Aquele homem não entendeu isso.

Algumas pessoas não entendem e julgam sem saber. Falam do que não conhecem e querem determinar o que está no coração que não é o seu.

Caro leitor, seja sensível ao outro! Não julgue o que você não conhece. Nem tome por verdade absoluta qualquer coisa que você ouve. Busque o conhecimento, a verdade, mas acima de tudo isso tenha sensibilidade pelo próximo, amor e respeito!

Afinal, somos todos humanos e imperfeitos, não é verdade? Todo mundo tem uma deficiência. Ninguém é perfeito. Respeite o próximo seja ele quem for!

MEUS 10 MOTIVOS PARA DIZER NÃO A MATERNIDADE

O “eu” do outro não tem que governar o meu “eu”. Cada um sabe de si. Cada um conhece suas qualidades, seus defeitos, suas falhas, seus próprios fragmentos.

Eu quero um sobrinho ou eu quero um neto (a vontade do outro), mas eu não quero ter um filho (a minha vontade).

Por que você não quer ter filho ou filhos?

1º (Sozinha/solo) – Eu não sou casada. E ainda que eu fosse ou que tivesse o melhor parceiro (namorado/marido) do mundo, ainda assim a maternidade é difícil. E querendo ou não, o maior peso, as maiores cobranças cabem a nós, mulheres, carregar. Mesmo que a gente tenha um homem maravilhoso ao nosso lado, parceiro em tudo de verdade, ainda assim nossa maternidade só cabe a nós e ela é por muitas e muitas vezes difícil.

2º (Preparo) – Eu não estou preparada para a maternidade. Gente, não é só parir! É criar, é educar, é ser o melhor exemplo possível de ser humano pra sua criança. Eu definitivamente não sou esse ser humano. Sou paciente com o filho dos outros e por isso mesmo porque é dos outros e a minha responsabilidade é mínima sobre eles. Quando se trata do próprio filho é diferente. A gente sempre acha que vai agir de tal forma, vai ser diferente, vai ser melhor e no final comete os mesmos erros dos pais. No final, mudou só endereço. A bagunça é a mesma. A loucura, a correria é a mesma.

3º (Sono) – Eu gosto e muito, mais muito mesmo de dormir e ter paz. Depois da maternidade tudo muda. O sono não é o mesmo. A gente dorme menos. Preocupa mais. E o filho pode ser maior de idade, ser casado(a) que será sua maior fonte de preocupação. Eu gosto de não preocupar demasiadamente com nada, com ninguém em particular.

4º (Exigências) – Eles exigem muito. Consultas médicas, fraldas, atenção, leite, cuidados, carinho, etc… Gente! Gastos financeiros, gastos físicos, emocional. Filhos devem ser planejados e ainda assim vão nos surpreender porque a única coisa que segue roteiro é novela.

5º (Impaciência e Insegurança) – Sou uma mulher muito impaciente e me irrito com facilidade. Já pensou eu como mãe que loucura que não ia ser?! Um surto e um susto atrás do outro. Pra ser sincera acho que eu ia chorar quase todo dia no ombro do meu marido e dizer: “Bem, olha o que eu fiz! Não sou uma boa mãe, não! Eu queria ter feito isso ou dito isso, mas me irritei e fiz tudo errado. Perdi a paciência! Que tipo de mãe eu sou?” E assim, sem querer ia me cobrar cada vez mais.

6º (Responsabilidade) – É uma responsabilidade para uma vida inteira. Quem pensa direito a respeito de filhos, demora a tê-los ou optam por não ter. Gente, não é por maldade! Quem escolhe não ter filhos não são pessoas ruins. São pessoas que conhecem as próprias limitações e acreditam que não estão aptas a tê-los. Elas podem adorar crianças e ainda assim não querer ter filhos e não tem nada de errado nisso.

7º (Genética) – Filho é 50% dos genes do pai e 50% dos genes da mãe. Sabendo que genética é algo sério e relevante na formação de um novo ser, determinando boa parte de suas características físicas, emocionais, intelectuais e até psicológicas, eu não gostaria de ter um filho com qualquer um. Você gostaria? Que tipo de pai ou mãe você quer para o seu filho? Isso é importante sim.

8º (Ensinamento e Criação) – Não acho justo apenas ter um filho ou colocar uma criança no mundo só pelo status de mãe. Ter um filho vai muito além de parir a criança. É ensinar, é corrigir da forma certa, é brincar e brincar bastante, é permitir o diálogo de igual pra igual, é desafio constante, é joelho no chão, é curtir cada fase e não apenas registrar as “selfies” nas redes sociais.

9º (Medo) – Tenho medo. Medo de não ser a mãe que gostaria de ser. Medo de não me tornar uma pessoa melhor depois que meu filho nascer. Medo de me tornar só mãe e esquecer que também sou mulher, sou esposa, sou filha, sou amiga, sou profissional e que assim como minha criança precisa de atenção, de cuidados, eu também preciso porque não deixei de ser um ser humano e vivo ao me tornar mãe. Ser mãe é uma parte da vida de uma mulher, mas não é toda ela. Porém, muitas mulheres se esquecem disso e vivem só em função da maternidade.

10º (O dia que a gente pensa que nunca vai chegar) – Tudo que nasce, tudo que tem vida, um dia morre. E definitivamente eu não estou preparada para a morte de um filho. Você está?

Claro que ninguém pensa nisso ao engravidar! Na verdade, ninguém pensa que a morte pode chegar. Não é por isso que cometemos tantos erros achando que somos eternos? Não é por isso que vivemos tão levianamente a própria e única vida que temos?

Eu não estaria preparada porque a meu ver eu não viveria tão plenamente, nunca mais.

Por que você não quer ser mãe? Porque não me encaixo no perfil. Não sou qualificada e nem estou preparada para a maternidade. Simples assim!