CONVERSA ALEATÓRIA E SEM NOÇÃO

Certo dia eu estava na van e acabei ouvindo uma conversa aleatória e muito sem noção de um homem que estava sentado ao lado de uma senhora (que tudo indicava ser a mãe dele). A conversa deu início quando uma mulher entrou com seu filho cadeirante e com deficiência múltipla. Essa mulher é bem conhecida e sua história também.

O homem estava contando a senhora que aquele era o segundo ou terceiro filho dela “daquele jeito”. Ele disse que os genes dela eram ruins e se não fossem os dela seriam os do pai da criança, já que todos os filhos nasceram defeituosos.

Ele disse que ela tinha que fazer testes genéticos antes de ter um filho. E foi falando mais um tanto de coisa. Quem ouvia a conversa ficava olhando com tristeza pra aquela mulher e pensando: “Coitado do menino (criança)!”.

Eu ouvi tudo aquilo, mas não tive coragem de interromper aquela conversa sem noção. Então, eu só pude ficar ali em pé, com cara de incomodada e muito indignada.

Totalmente sem noção! A mulher estava ali levando o seu filho para fisioterapia e provavelmente ouviu aquela conversa, mas ignorou.

Um teste genético? Sério? Deu vontade de perguntar aquele homem se antes de fazer sexo com namorada ou esposa ele pede um teste genético pra ela e ele também faz um. Afinal, se eles fazem sexo há uma grande chance de engravidar, né?

Geralmente as pessoas só querem o prazer, não a genética. Na “hora H” ninguém pensa em muita coisa, não é mesmo? Não pensam em doenças, em gravidez e muito menos em genética.

Teste genético? Você sabe quanto custa um teste genético pra saber a probabilidade de uma criança nascer saudável ou não? Aquela mulher usa transporte público ou vai a pé aos lugares, usa o SUS e outros meios públicos e gratuitos seja na área da saúde, educacional ou qualquer outra. O que significa que ela assim como muitos não tem uma vida financeira abastada. Ela passa por muitas dificuldades e não é só na área financeira.

O homem não reparou em sua cabeça raspada. O que sugere 2 coisas: Ela podia estar doente ou ela decidiu raspar por ser mais prático para o seu dia a dia. Pra mim, ela é uma mulher forte, bonita, amável e cheia de fé. Ela gerou filhos e os perdeu. Essa é a condição de pessoas que nascem com deficiência múltipla. Não vivem uma vida “normal”, comum como nós. Sua expectativa de vida é curta. No caso dela, ela já perdeu um filho quando ele tinha apenas 7 anos. A cadeira que o menino usava era do irmão que morreu.

Você acha que alguém pensa ou deseja ter um filho nessas condições? Ter um filho considerado normal, saudável já é bem difícil, requer responsabilidade, paciência e amor. Um filho com alguma deficiência requer um trabalho maior, mais árduo. O desafio é grande. Ninguém quer ter ou ser assim, mas às vezes acontece e não é culpa dos pais, nem da criança.

A gente não faz crianças num caldeirão. Não escolhemos os “ingredientes”. Elas vem do seu próprio jeito, com seu próprio e único código genético. E nenhuma delas é um acaso ou um acidente. Elas são um milagre. E nos ensinam mais do que nós a elas.

As crianças daquela mulher aos olhos dos outros eram dignas de pena, mas aos dela eram e são seus maiores presentes de Deus nessa terra. Independente de como vieram, elas não são dignas de pena. São dignas de amor.

Aquele homem não entendeu isso.

Algumas pessoas não entendem e julgam sem saber. Falam do que não conhecem e querem determinar o que está no coração que não é o seu.

Caro leitor, seja sensível ao outro! Não julgue o que você não conhece. Nem tome por verdade absoluta qualquer coisa que você ouve. Busque o conhecimento, a verdade, mas acima de tudo isso tenha sensibilidade pelo próximo, amor e respeito!

Afinal, somos todos humanos e imperfeitos, não é verdade? Todo mundo tem uma deficiência. Ninguém é perfeito. Respeite o próximo seja ele quem for!