O QUE NÃO NOS MATA, NOS FORTALECE

“…Todos caímos
Vivemos de alguma forma
Aprendemos que o que não nos mata, nos torna mais fortes…” (Trecho da música Sharp Edges – Linkin Park)

Quem nunca ouviu esse ditado “O que não mata, engorda ou o que não mata, fortalece”? De fato, às vezes sentimos dores, passamos por algumas fases difíceis que no início até pensamos que vamos morrer, mas no final percebemos sair delas mais fortes.

Nada nesse mundo é para sempre. Nem mesmo as dores, as lutas, o luto ou qualquer outra coisa que seja. Tenho passado por uma fase difícil nesses últimos 2 anos. Fui diagnosticada com ansiedade, síndrome do pânico e por fim, depressão. Não é fácil mesmo.

Nos dias bons eu sou eu mesma. Uma pessoa alegre, divertida, com ânimo para fazer as coisas do dia a dia, espalhando riso pra todo lado. Nos dias ruins, aqueles dias de crise, eu choro, passo mal, sinto um peso e um desânimo fora do normal. Minha mente fica esgotada e eu no limite do estresse.

No início eu pensava “eu vou morrer ou estou morrendo”, esse mal está me destruindo, já nem me reconheço mais. Eu chorava o tempo todo, não conseguia dormir, não sentia paz, minha alma estava perturbada e minha mente me sabotando cada vez mais. Eu cheguei a pensar e dizia: “eu não aguento mais!”. Eu dizia isso, mas hoje ao olhar para atrás eu só posso agradecer a Deus pelo privilégio da vida e por ter me ajudado a suportar.

Afinal, já são dois anos de luta. Há recaídas sim, eu não nego. Mas hoje eu sei que não é isso que vai me matar. Pelo contrário, é exatamente isso, essa dor, essas crises, esses altos e baixos que tem me tornado uma pessoa mais forte, mais sensível ao outro e a dor do outro, mais empática, mais humana, mais bondosa até comigo mesma. Tudo isso um dia terá fim. Isso não vai ser para sempre.

Eu tenho um amigo que me disse uma vez que eu consigo manter um sorriso no rosto independente da situação. É assim que ele sempre me viu e ainda me vê. Minha mãe de leite outro dia disse: “Você é forte sim. Poderia estar quieta no quarto, mas está aqui comemorando seu aniversário conosco, rindo, brincando e passando mal. Isso é força”.

A força que tenho não vem de mim. Vem de Deus. Ele é quem tem me fortalecido dia após dia. Ele é quem tem cuidado de mim nos pequenos detalhes. O motivo do meu sorriso é por reconhecer a bondade e fidelidade de Deus que me cerca todos os dias.

Muito provavelmente eu esteja passando por isso para no futuro poder ajudar alguém nessa situação que traz desconforto, desespero e tantas dúvidas. Só pode ajudar quem já passou pelo mesmo deserto e saiu dele. Você fala com mais propriedade daquilo que você entende, vive ou já viveu em algum momento da vida.

Independente do que você esteja passando, quero que saiba que você sairá dessa situação sim e mais forte com certeza. Isso não vai te matar. Vai te tornar mais forte e você poderá ajudar outras pessoas a superar também. ❤

RITA. A MULHER QUE SEGUROU A MINHA MÃO E ME TIROU DA ESCURIDÃO

Seu nome significa “pérola”, “criatura de luz”, “iluminada”. São adjetivos que combinam perfeitamente com ela. Ela que por muitas vezes me defendeu em silêncio. Ela que por outras tantas vezes me apoiou incondicionalmente.

Tenho por ela uma admiração sem igual. Ela é forte, independente, segura de si e está sempre buscando ser cada dia uma pessoa melhor. Foi ela que segurou minha mão quando mais precisei. Me disse coisas que eu precisava ouvir e as disse com respeito, sinceridade e amor.

Se eu a admirava antes, agora admiro ainda mais. Eu achava que estava sendo apenas um incômodo ali naquela escola. Que não fazia diferença em ir ou não ir. Foi quando ela segurou minha mão e disse que eu era importante. Que eu sempre ajudei e que sou uma ótima funcionária sim.

Eu lembro quando fui parar naquela escola pela primeira vez. Eu estava insegura, com muito receio de dar tudo errado. Eu tinha sido remanejada de outra escola onde muitos de lá não gostavam de mim. Eu estava ferida por dentro. Com aquele sentimento de rejeição, sabe? E logo que cheguei na escola, foi ela que me recebeu com as boas-vindas mais calorosas que já recebi. A diretora estava brincando com as crianças no pátio.

Ao ver tudo isso e ser tão bem recebida, eu decidi ficar ali. Apesar de ser um pouco longe da minha casa, sinceramente, não trocaria de lugar. Porque é ali que eu me sinto bem acolhida. Fui bem recebida, bem tratada e ainda sou. Para eles eu não sou um número, uma matrícula, ou uma pessoa qualquer. Eu sou uma pessoa digna de respeito e sou importante para eles de alguma maneira.

Trabalho com uma equipe maravilhosa e sou profundamente grata a Deus por isso. Tenho a plena convicção de que se eu estivesse em outro lugar eu não teria sido tratada de uma maneira tão humana e valorizada como eu fui ali.

Rita, você é mesmo uma pessoa iluminada. Eu disse algo sem pensar e isso acabou te prejudicando e ao invés de me excluir, ignorar ou me julgar, você simplesmente me colocou no meu lugar sem ignorância, sem me faltar com respeito. Você trouxe luz as minhas trevas com suas palavras de sabedoria.

Seu olhar compassivo, suas palavras sábias, seu abraço caloroso e o simples gesto de segurar a minha mão foi o suficiente pra me trazer de voltar. Pra me lembrar de que eu não sou o que me aconteceu e sim o que eu decido me tornar. Me serviu de aprendizado e um alerta pra olhar pra mim mesma. Pra antes de falar aprender a ouvir.

Naquele dia que recebi aquela advertência e você segurou a minha mão, eu decidi que independente do que eu pudesse sentir ou viver, eu seguiria em frente. Eu ia reagir. Eu decidi retribuir sua confiança e seu apoio.

Quando eu mais precisei você se fez presente. E eu espero que quando você precisar de mim eu possa ser um apoio físico e/ou emocional pra você também. Assim como você segurou minhas mãos e me deu forças pra continuar, que eu possa fazer o mesmo por você sempre que precisar. Te amo muito, Ritinha! ❤

EU NÃO ME RECONHEÇO MAIS

Hoje eu sou apenas a sombra do que um dia eu fui. Um reflexo borrado.

Dizem que é preciso calçar os sapatos do outro para compreender ou pelo menos ser mais sensível a dor do outro. E é a mais pura verdade.

Quando eu via alguém com crise de ansiedade ou a síndrome do pânico, eu não achava que era frescura, mas achava um exagero. Pensava: Será que é tão absurdo assim? A pessoa parece estar a beira da loucura. Pra mim nenhuma doença, transtorno, distúrbio ou mal estar são frescuras, mas algumas delas eu achava mesmo que era um exagero. Até que um dia eu calcei os sapatos e pra minha surpresa…Não. Não era nenhum exagero. Não era falta de fé, de medicação ou do que mais alguém possa pensar.

Eu que era tão fria, insensível ao outro, despreocupada, desligada de tudo, e sem medo, passei a não me reconhecer mais. Eu choro, tenho vontade de gritar, sinto como se fosse surtar e enlouquecer de vez. O pânico e a ansiedade vem sem aviso prévio e eu me vejo a beira de um abismo clamando por misericórdia. A angústia me domina e o medo fica evidente.

Eu que não tinha medo de nada passei a temer minha própria sombra. Me assusto com mais facilidade e me vejo comovida com sinceridade pela vida do outro.

Todo mal estar que eu sinto, logo me vem na cabeça: Será que vai começar tudo de novo? Até quando vou ficar assim? Melhora um pouco, penso estar totalmente livre e de repente vejo tudo desandar.

Não. Não é um exagero. Não é frescura. E ainda não é a loucura tomando conta.

Eu não me reconheço mais e quer saber? Ainda bem! Apesar de não ter gostado desse “sapato” que hoje eu calço, eu sinto que me tornei um pouco melhor do que eu era. Agora eu enxergo o outro, penso mais no outro e quero aprender mais com o outro.

Toda vez que eu sinto que estou perdendo o controle e que estou a beira de uma crise, eu fecho os meus olhos e converso com Deus. Eu choro, mas digo tudo que estou sentindo, pensando e começo a repreender todo mal. Logo, vou me acalmando, vou melhorando e me sentindo menos perto do abismo.

Acredito que Deus é quem tem o controle de todas as coisas, então, Ele é o único capaz de controlar o que nós não podemos ou não mais conseguimos.

Se você está em uma situação parecida, calçando os “sapatos” de alguém, ou está a beira de um abismo, seja o que for. Procure ajuda, peça ajuda, mas não se deixe vencer! Nada dura para sempre a não ser o amor. Então, se ame e se ajude!

Eu busquei ajuda na minha família, na medicina (física), mas principalmente em Deus (espiritual) porque uma não exclui a outra. Elas podem andar juntas. Deus se importa sim com sua alma, mas também com seu corpo físico, com suas emoções e sua mente. E Ele é o maior interessado em nos ver bem, saudáveis e felizes.

Agora que não me reconheço mais tenho a oportunidade de me refazer como ser humano e me tornar na essência o que um ser humano deve ser….Humano. ❤

Foto: Elina Krima

RASTROS DE UM SUICIDA

Falar de questões como depressão e suicídio é pesado, eu sei. Até porque é tudo muito pessoal. Cada um tem uma forma de viver, de sentir, de lidar com os outros e consigo mesmo. Mas precisamos falar abertamente sobre isso, alias, precisamos nos abrir mais sobre qualquer assunto.

Há alguns anos eu assisti uma entrevista onde o entrevistado (meu cantor favorito) estava tentando se abrir, falar de forma clara o que estava acontecendo com ele, o que se passava em sua mente e o entrevistador riu e disse: “Você é louco?”; “O que está dizendo?”, o entrevistado deu um sorriso sem graça e se fechou de novo. Eu ouvi a entrevista e pude notar dois pontos que ficaram claros como água pra mim. O primeiro é que suicidas em potencial pedem ajuda sim e de todas as formas que encontram. Eles não querem morrer. Querem expurgar suas feridas mais profundas. Eles não querem viver na ilusão de uma vida de mar de rosas, sabe. Não é uma vida ausente de dores, mas uma vida onde é possível compartilhar sem medo, preconceitos, ou julgamentos suas aflições. Saber que apesar da bagunça que é sua mente, eles não estão sozinhos.

O segundo ponto é que todos tem ouvidos, mas nem todos ouvem. E aqui não estou falando de uma perda parcial ou total da audição, não. O entrevistador ouviu cada palavra que saiu da boca daquele cantor, mas ele não o compreendeu. Não entendeu o pedido de ajuda. Aquele homem raramente se abria em entrevistas, geralmente, ele expunha seus sentimentos, seus pensamentos nas canções que eu amava ouvir ele cantar. O entrevistador riu e ainda questionou sua sanidade mental. Seu comportamento apático revela uma deficiência emocional presente nele e em muitos de nós, que é não nos colocar no lugar do outro, não se esforçar pra compreender o outro.

Assim como há diferentes e inúmeros tipos de linguagens verbais e não-verbais, há também diferentes tipos de apelos. Os suicidas deixam rastros antes da tragédia. Somos nós que não damos a devida atenção. Somos nós que não estamos preparados para ver a nudez da alma do outro. Isso nos assusta, nos choca e não gostamos de nada que nos deixe desconfortáveis. E ver o outro despir a alma diante de nós é algo que perturba, intriga e desconforta. Estamos acostumados a ver a nudez física e não a da alma. Acredito eu que muito dos maiores problemas e até pecados da humanidade venha do acobertamento da alma. Da ausência desse tipo de nudez que nada mais é do que revelar ao outro quem a gente é de verdade. Se despir, se expor, deixar ver os quartos escuros da alma.

É pesado e ninguém quer falar sobre isso. De um lado temos os suicidas em potencial que querem e precisam ser ouvidos, compreendidos e amparados. Do outro temos nós, os ignorantes. Sim, somos ignorantes. Seja por não compreender uma linguagem às vezes sutil ou por incitar o mal.

Eles deixam rastros antes da tragédia.

Um homem bom tirou a própria vida, mas antes ele deixou rastros. Deixou uma entrevista tentando revelar um lado íntimo, pouco conhecido de sua alma (sua mente, seus pensamentos e emoções). Deixou várias músicas com letras pesadas até. Músicas essas que muitos ouviram (cantaram, amaram e amam), mas não compreenderam até que o último álbum foi lançado. O último álbum da banda é basicamente um grito de misericórdia. Não é suave, não é sútil e mesmo assim ninguém ouviu.

Ninguém compreende os rastros até ver o sangue.

Ninguém compreende a dor até sentir a dor.

Ninguém compreende um grito até ver um corpo sem vida.

Ninguém compreende a depressão… A depressão é frescura até chegar a tragédia.

Eles pedem ajuda sim. Eles querem ser ajudados sim. Eles estão prontos pra despir a alma e revelar quem são. Somos nós que não estamos preparados para lidar com esse tipo de nudez. Somos nós que não queremos ver nem ouvir. Porque sabemos que no dia em que nos prontificarmos a ver e ouvir, vamos querer que nos vejam e nos ouçam também. E mostrar quem somos aos outros é assustador. A exposição assusta. Nem todos vão apreciar o que está sendo mostrado. Nem todos vão entender. Mas a verdade uma vez revelada traz uma liberdade jamais imaginada.

Eles deixam rastros antes da tragédia.

Ninguém compreende os rastros até ver o sangue.

Se você conhece alguém nessa situação ou se está nela procure ajuda. Por favor, sua vida é importante! A morte não é a solução. O amor é.
Não tenha medo ou vergonha de pedir ajuda. Você não está sozinho(a).

Ligue 188
Acesse cvv.org.br
Ou procure um profissional (psicólogo).

Lembre-se: Você é importante. 💛

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Foto: NEOSiAM 2020