1%

Os post-its estão espalhados pelo quarto. Frases, lembretes, palavras que deveriam me ajudar a manter o foco no dia a dia, mas se tornaram apenas papel gasto.

Frases lindas, motivacionais, mas que nunca se tornaram ações. Nunca saíram do papel. Quando as escrevi estava tão determinada a cumprir o que eu escrevi e disse a mim mesma. Onde foi parar a tal determinação? Onde foi parar “esse ano será diferente”?

Promessas quebradas. Palavras ao vento. Nem eu acredito mais nas minhas palavras. Talvez eu tenha feito planos demais, promessas demais, metas demais. Tudo que é demais se torna um fardo pesado a ser carregado.

Eu deveria ter começado com o mínimo. Aquele 1% diário, sabe?

1% é o mínimo. E o mínimo bem feito todos os dias leva a perfeição. Leva a autodisciplina.

Será que estou esgotada, cansada da vida ou comecei a acreditar que não sou útil ou capaz de nada?

Eu deveria rasgar esses post-its e apenas esquecer, mas eles me trazem a memória a riqueza da verdade, da sabedoria e me fazem pensar e acreditar que se eu ainda os mantenho é porque eu sou capaz de transformar essas palavras em ações.

Não existe sorte. Não existe predestinação. Existe esforço, vontade e coragem pra seguir em frente. Existe o realizar de forma consciente, inteligente.

Se eu acordar e arrumar a minha cama todos os dias já fiz 1% de alguma coisa. É uma meta aparentemente simples e até boba, mas “quem arruma a cama, arruma a vida”.

Não preciso me sentir inferior por não ser multitarefas. Por não conseguir estar 100% todos os dias. Por não ser boa em tudo. Ninguém é, na verdade. Ter uma vida atarefada demais, ser uma pessoa multitarefas pode soar bem, mas em geral, é frustrante, cansativo e é mais suscetível ao desgaste psicológico e emocional.

Quem é 100% todos os dias se a vida é feita de altos e baixos? Existe alguém que consegue mesmo ser bom em tudo e o tempo todo? Claro que não! Até os heróis tem suas fraquezas, porque nós não teríamos?

O mínimo bem feito vai ser sempre melhor do que o máximo mal feito ou feito de qualquer maneira.

Nós não precisamos ser o número 1 sempre. Não precisamos ser bons em tudo o tempo todo. Basta ser bom em algo. Basta levar uma vida digna e ter um coração aberto e grato pela vida. Basta a gente reaprender a ser leve, feliz e saudável.

Basta permitir que nossa criança interior seja curada e seguir em frente para nos tornamos o adulto que desejamos e podemos ser. ❤

ME DESCULPE E MUITO OBRIGADA PELO TEMPO QUE PASSAMOS JUNTOS

Se despedir de algo ou alguém é doloroso. Ainda mais quando se está acostumado, já conhece bem e se sente confortável. É doloroso quando se está tão apegado a algo ou alguém, mas o partir breve ou permanente faz parte da jornada da vida e de suas muitas fases. Um ciclo se encerra e outro começa.

Eu tive que me despedir deles. Autistas precisam de rotina. Precisam de alguém estável e confiável. E no momento eu não sou a melhor opção para ser o apoio que eles precisam. Infelizmente. Não estou na minha melhor forma.

Quando ela me chamou pra remanejar a troca de alunos, eu confesso que tive vontade de chorar e bater o pé. Vontade de implorar por uma segunda chance. Mas não valia a pena fazer nada além de concordar, afinal, não é a minha vontade que importa. São as necessidades deles que vêm em primeiro lugar.

Apesar de achar que ela não gosta nenhum pouco de mim, eu reconheço que é uma pessoa justa. A troca não foi uma punição. Ela foi gentil comigo, entendeu minha atual condição e remanejou tudo de acordo com o que sou capaz no momento. Mas não posso dizer que não doeu. Não posso dizer que não estou sentida.

Ele chorou por eu não poder mais estar com ele e eu chorei também (longe dele). O outro apesar de ser mais velho e maduro ficou um tanto quanto confuso, mas também aceitou sem desespero. Apesar deles não entenderem bem o porquê, aceitaram o novo arranjo. Não fizeram birra, não rejeitaram as novas atendentes. E eu fiquei orgulhosa de ver como estão crescidos.

Ela me perguntou se estava tudo bem, e eu, por um instante pensei em implorar, em dizer que não, mas dei lugar a razão ao invés da emoção. E concordei. Disse tudo bem apesar de no fundo não querer que fosse assim.

Meninos, eu peço desculpas por atualmente não ser o apoio estável, confiável e necessário que tanto precisam. A troca foi necessária e vocês vão se desenvolver muito mais. Logo eu serei apenas uma mera lembrança e está tudo bem.

Sou profundamente grata pelo tempo que passamos juntos. Eu aprendi muito com cada um de vocês. Vocês conseguiram conquistar meu coração e iluminaram meus dias. Aprendi a ser mais paciente, mais gentil, mais humana e a me colocar mais no lugar do outro.

Agora é hora de se adaptar de novo. Fazer novas conexões.  É hora de iniciar um novo ciclo. Vocês podem não entender, mas às vezes a gente perde pra ganhar. A gente vai continuar se vendo em alguns momentos e embora eu os veja crescendo de longe vou me orgulhar sempre de vocês. Acreditem, vocês vão se desenvolver mais, muito mais!

Não sou útil pra vocês agora, mas quem sabe na próxima vez estarei saudável de novo, estarei inteira de novo e possa voltar. Me perdoem por quebrar a minha promessa de ficar com vocês até o final e muito obrigada por permanecerem comigo durante todo esse tempo.

Eu amo vocês. ❤

A ÚLTIMA A SER ESCOLHIDA

Alguns dos alunos onde trabalho me fazem lembrar da minha época de escola. Me fazem lembrar de mim mesma naquele tempo.

Eu sempre fui aquela aluna mediana, introvertida e que não revelava minhas verdadeiras habilidades. Sabe do que eu mais lembro? De ser a última a ser escolhida. De ser sempre aquela que a professora tinha que encaixar em algum grupo.

Eu odiava trabalhos em grupo. Os colegas que tinham que me aturar no grupo faziam cara de desgosto, “ah, ela não”! Desde a primeira série até o último ano do ensino médio foi assim. Ninguém gostava de mim e eu não gostava deles, mas tinha que me socializar. Eu estava na escola pra aprender não apenas os conteúdos, mas também pra conviver em sociedade.

No ensino fundamental eu era muito boa em jogar queimada. Era uma das poucas atividades em educação física que eu gostava. Era uma das últimas a sair do jogo, mas era a última a ser escolhida pelos colegas (a que restava) e como isso me frustrava. Eu pensava: Eu sou boa nesse jogo, mas por quê não me escolhem logo?

Por vezes me diminui achando que eu era o problema. Achando que não era capaz ou não era boa o suficiente. No fundo eu queria ser reconhecida. Mas tudo que consegui era ser a última a ser escolhida. Eu tinha amigos sim, mas mesmo eles não viam muita coisa em mim, eu entendo. Afinal, eu não revelava o quão inteligente eu era, nem boa em algo.

Já no ensino médio foi pior. Adolescentes, sabe?! Alguns se destacavam pela beleza, outros pela inteligência, outros nos esportes… E eu não destacava em nada. Se não respondesse presente na chamada nem mesmo os professores saberiam que eu estava lá. Eu não me importava em ser “invisível”. O que me frustrava era fazer parte de algo e ninguém perceber minhas habilidades. Como assim eles não veem que sou boa com as palavras escritas? Como assim não percebem que sou melhor nessa matéria do que na outra? São tão ignorantes assim ou só querem me deixar de lado?

Lembro que uma vez o professor de inglês deu uma prova em dupla e ele me colocou com um aluno muito metido. Nitidamente ele estava chateado por não fazer par com uma de suas amigas. A panela perdeu a tampa. Sabe o que me irritou? Não foi o fato de sentar com ele. Eu realmente não me importava com quem o professor me colocava. Foi ele supor que eu não sabia nada da matéria, não me deixar fazer nada e ainda colar na prova porque as amigas estavam sentadas atrás de nós. Resultado? O pior. Tiramos uma nota baixa e ele riu e disse: “Eu nem precisava de ponto mesmo, já passei”.

Tive vontade de puxar ele pelos cabelos. Eu precisava de pontos. Sabia a matéria melhor do que eles. E acharam que por estar sempre tirando notas altas eram melhores do que eu? Ah, me poupe! Ainda bem que esse tempo já foi. Eu era boba demais. Não tinha uma autoestima saudável, tinha dificuldade em dizer o que realmente sentia ou pensava. Deixava minha própria vida à deriva.

Hoje quando vejo os alunos na escola onde trabalho eu até acho graça. Quando os vejo frustrados digo que vai ficar tudo bem e que numa próxima vez eles se sairão melhor. Faço o melhor que posso pra que a autoestima deles não seja prejudicada. Brinco, cuido, ensino, corrijo, e falo sobre suas habilidades. Não quero vê-los se diminuindo, nem se autodestruindo como muitas vezes eu fiz.

Quero que eles sejam felizes. Quero que olhem pra si mesmos e veja o quão inteligentes e capazes eles são. Porque eles são.

Quando digo que vai ficar tudo bem e que numa próxima vez eles se sairão melhor, não estou mentindo, nem reconfortando. Estou dizendo a verdade por experiência própria. E estou dizendo pra mim mesma. Cada dia a gente pode melhorar um pouquinho. Não se preocupe, vai ficar tudo bem, acredite! 😉

Foto: Pixabay/pexels

INTELIGÊNCIA

Às vezes subestimamos nossa inteligência. E eu, quase sempre subestimo a minha. Duvido, questiono, me impressiono mesmo diante de tantas provas da minha capacidade intelectual. É que ainda há traços do “você não é capaz disso ou daquilo outro”, “você não tem futuro”, “você não é boa o suficiente” e tantas outras coisas absurdas em mim.

Estamos tão acostumados ao que é negativo em nós e nos outros que não conseguimos enxergar as potencialidades, a genialidade de cada um, inclusive de nós mesmos.

Certa vez me inscrevi com a nota do Enem para dois cursos em potencial pra mim naquela época (Engenharia Química e Bioquímica Integral), mas fiz os cálculos e vi que minha nota de corte inicial não seria suficiente. Pensei assim: Ah! Não vou passar, melhor esquecer!

O tempo passou e acabei esquecendo mesmo. Um dia resolvi digitar meu nome completo no Google pra ver o que apareceria. E para minha surpresa eu vi que tinha passado em 8º lugar na UFSJ (Universidade Federal de São João del-Rei). Fiquei impressionada.

Eu poderia já estar formada (e bem formada) hoje, mas subestimei minha própria inteligência. Eu pensei que não fosse capaz de passar numa universidade federal ou de renome, nem mesmo em cursos tão complexos como estes que me inscrevi. E por já pensar no fracasso esqueci de ir verificando a classificação e as chamadas.

Não devíamos nos colocar pra baixo.

Não devíamos focar só nos fracassos ou pensar neles como se fossem uma constante em nossas vidas. Todos tem altos e baixos em qualquer área e em qualquer momento da vida.

Não subestime sua inteligência, sua capacidade, sua força! Aprenda com os erros, supere seus próprios limites e desafios! Se concentre nas suas potencialidades, nas suas habilidades e melhore os pontos fracos! Não precisa viver em constante competição com o outro, isso é exaustivo. Seu pior inimigo é você mesmo. Não exija 100% de nada nem ninguém (você vai se frustrar) porque não existe perfeição. Você não tem que ser melhor que o outro, mas sim melhor que si mesmo 1% por dia.

“Se você julgar um peixe por sua capacidade de subir em árvores ele vai passar a vida toda acreditando ser incapaz”. (Albert Einstein)

brain-2062057_960_720

Foto: Elisa Riva