NÃO VAI DAR NADA PRA MIM. E SE DER É POUCA COISA

Uma frase dita num tom de brincadeira “Vai dar nada pra mim, não. E se der é pouca coisa”; mas revela uma geração livre de tudo, inclusive de punição, ou melhor, das consequências de seus atos absurdos e desrespeitosos.

Eu que trabalho numa escola pública já vi muito dos alunos levar a bandeira e até debocharem e esfregarem na nossa cara o tal do “não vai dar nada pra mim”. Sabe o que é pior e mais assusta? É que geralmente eles estão certos.

As gerações estão cada vez piores. Essa é a geração mais livre, com acesso a tudo na palma da mão, entretanto, é a geração mais nociva, agressiva, doente e sem senso comum ou noção das coisas à sua volta.

São quase intocáveis. E como sabem disso tiram proveito. Ai de nós, educadores, se porventura ousarmos tocá-los, enfrentá-los ou corrigi-los como antes era possível. Eles podem. E podem tudo. Nós não.

Eles podem nos ofender, machucar, gritar e dizer não. Mas ai de nós se revidarmos! E essa geração tem um agravante… O apoio dos pais. E não estou me referindo aquele apoio emocional, educacional, não. Os pais de hoje em dia (não todos, é claro!) apoiam esses atos “inocentes” de seus filhos. Afinal, nós estamos na era da liberdade!

E assim caminha a humanidade… Rumo ao caos. É sobre isso e tá tudo bem. As pessoas estão confundindo liberdade de expressão com falta de respeito e amor ao próximo. Os valores e bons costumes são coisas ultrapassadas. Agora tudo pode. Limite? Só se for para o cartão de crédito, né bem? Porque as crianças de hoje nem sabem o que é isso e os pais reforçam essa ideia de indisciplina.

Criança de 5 e 6 anos manda e desmanda no professor. Adolescentes nos mandam tomar naquele lugar e tem pai e mãe achando lindo isso. “Meu filho(a) tem personalidade forte”, ele/ela tem opinião própria. Que nada! Seu filho ou filha é sem educação mesmo. Não sabe ouvir um NÃO. E você tem culpa nisso.

Os filhos refletem o que vivem em casa. A ideia inicial era criar uma geração pensante, crítica, consciente, humanizada, não uma geração destrutiva. Essa é a geração mais livre, mas também é a geração mais transtornada e abusiva.

Como você acha que vai ser as próximas gerações se não houver uma intervenção adequada nessa?

“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.” Paulo Freire

“Educai as crianças para que não seja necessário punir os adultos.” Pitágoras

“E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela.” Hebreus 12:11

A ÚLTIMA A SER ESCOLHIDA

Alguns dos alunos onde trabalho me fazem lembrar da minha época de escola. Me fazem lembrar de mim mesma naquele tempo.

Eu sempre fui aquela aluna mediana, introvertida e que não revelava minhas verdadeiras habilidades. Sabe do que eu mais lembro? De ser a última a ser escolhida. De ser sempre aquela que a professora tinha que encaixar em algum grupo.

Eu odiava trabalhos em grupo. Os colegas que tinham que me aturar no grupo faziam cara de desgosto, “ah, ela não”! Desde a primeira série até o último ano do ensino médio foi assim. Ninguém gostava de mim e eu não gostava deles, mas tinha que me socializar. Eu estava na escola pra aprender não apenas os conteúdos, mas também pra conviver em sociedade.

No ensino fundamental eu era muito boa em jogar queimada. Era uma das poucas atividades em educação física que eu gostava. Era uma das últimas a sair do jogo, mas era a última a ser escolhida pelos colegas (a que restava) e como isso me frustrava. Eu pensava: Eu sou boa nesse jogo, mas por quê não me escolhem logo?

Por vezes me diminui achando que eu era o problema. Achando que não era capaz ou não era boa o suficiente. No fundo eu queria ser reconhecida. Mas tudo que consegui era ser a última a ser escolhida. Eu tinha amigos sim, mas mesmo eles não viam muita coisa em mim, eu entendo. Afinal, eu não revelava o quão inteligente eu era, nem boa em algo.

Já no ensino médio foi pior. Adolescentes, sabe?! Alguns se destacavam pela beleza, outros pela inteligência, outros nos esportes… E eu não destacava em nada. Se não respondesse presente na chamada nem mesmo os professores saberiam que eu estava lá. Eu não me importava em ser “invisível”. O que me frustrava era fazer parte de algo e ninguém perceber minhas habilidades. Como assim eles não veem que sou boa com as palavras escritas? Como assim não percebem que sou melhor nessa matéria do que na outra? São tão ignorantes assim ou só querem me deixar de lado?

Lembro que uma vez o professor de inglês deu uma prova em dupla e ele me colocou com um aluno muito metido. Nitidamente ele estava chateado por não fazer par com uma de suas amigas. A panela perdeu a tampa. Sabe o que me irritou? Não foi o fato de sentar com ele. Eu realmente não me importava com quem o professor me colocava. Foi ele supor que eu não sabia nada da matéria, não me deixar fazer nada e ainda colar na prova porque as amigas estavam sentadas atrás de nós. Resultado? O pior. Tiramos uma nota baixa e ele riu e disse: “Eu nem precisava de ponto mesmo, já passei”.

Tive vontade de puxar ele pelos cabelos. Eu precisava de pontos. Sabia a matéria melhor do que eles. E acharam que por estar sempre tirando notas altas eram melhores do que eu? Ah, me poupe! Ainda bem que esse tempo já foi. Eu era boba demais. Não tinha uma autoestima saudável, tinha dificuldade em dizer o que realmente sentia ou pensava. Deixava minha própria vida à deriva.

Hoje quando vejo os alunos na escola onde trabalho eu até acho graça. Quando os vejo frustrados digo que vai ficar tudo bem e que numa próxima vez eles se sairão melhor. Faço o melhor que posso pra que a autoestima deles não seja prejudicada. Brinco, cuido, ensino, corrijo, e falo sobre suas habilidades. Não quero vê-los se diminuindo, nem se autodestruindo como muitas vezes eu fiz.

Quero que eles sejam felizes. Quero que olhem pra si mesmos e veja o quão inteligentes e capazes eles são. Porque eles são.

Quando digo que vai ficar tudo bem e que numa próxima vez eles se sairão melhor, não estou mentindo, nem reconfortando. Estou dizendo a verdade por experiência própria. E estou dizendo pra mim mesma. Cada dia a gente pode melhorar um pouquinho. Não se preocupe, vai ficar tudo bem, acredite! 😉

Foto: Pixabay/pexels

MENINO NÃO BRINCA DE BONECA

Em 2018 eu ficava responsável por auxiliar o Vittor (aluno do 4°ano), um menino do TEA (transtorno do espectro autista) tanto em sala de aula, quanto no recreio ou em outros ambientes (sala de vídeo, quadra, excursões). Certo dia, numa aula de educação física a professora deixou as crianças livres para brincar do que quisessem. Uns escolheram o futebol, outros escolheram seus próprios brinquedos.

Eu estava sentada na arquibancada do pátio observando o Vittor brincar com o jogo dos pezinhos (que pintaram no chão da escola) e de repente ele olhou para as coleguinhas segurando uma boneca e ficou observando por uns 2 minutos quando ele se aproximou de mim, segurou minha mão, apontou para as meninas e disse: Olha!

Eu conhecia bem esse gesto. Quando ele fazia isso era porque ele queria interagir e precisava de ajuda para isso.

Então perguntei: Você quer brincar com elas? E ele disse: Sim.

Me levantei e ele colocou seu braço em volta do meu como era de costume. Me aproximei das meninas e falei pro Vittor pedir pra brincar com elas. E ele disse: Ah, deixa eu brincar com vocês! Me dá isso aqui (a boneca)! Não tá segurando direito.

Eu disse: Vittor, não é assim que se diz. Pergunte assim: Eu posso segurar a boneca? Ele repetiu a frase e as meninas deram a boneca pra ele.

Sabe o que ele fez?

Voltamos para arquibancada e ele segurou a boneca como se estivesse segurando um bebê de verdade, embalou a boneca em seu colo, deu a mamadeira, fez o bebê arrotar e dormir. Sim, ele fez tudo que a gente faz com uma criança pequena. Ele cuidou da boneca como se fosse um bebê de verdade. E ele estava feliz. E eu? Fiquei admirada, é claro!

As meninas chegaram até a mim rindo e disseram: Paloma, o Vittor é doido! Menino não brinca de boneca.

E eu disse: O que tem de tão errado nisso? E elas retrucaram: Boneca é de menina.

Foi quando eu disse que o Vittor não é doido. Ele é inteligente, sensível e “brincar de boneca” não o tornaria menos homem.

Eu disse a elas que os meninos se tornarão homens um dia e consequentemente maridos e pais. Portanto, quando meninos brincam de casinha e boneca com as meninas, eles estão adquirindo responsabilidade, sensibilidade. Eles estão desenvolvendo senso de dever, de cuidado, de proteção. Não tem nada de errado nisso.

Elas entenderam e pararam de rir.

A gente vive numa sociedade complicada, que rotula tudo.

Cor não tem gênero e as brincadeiras também não.

Gênero tem o ser humano (masculino, feminino), os animais (macho, fêmea), os textos (gêneros textuais) e por aí vai.

Assim como nós (meninas) brincamos de casinha e boneca imaginando o futuro, imaginando cuidar da casa, do marido, dos filhos, por que um menino não pode imaginar o mesmo? Por que ele não pode se ver como marido, pai, provedor, cuidador do próprio lar?

As meninas disseram o que muitos dizem e a gente ouve bastante que é: Boneca é de menina.

Mas aí eu te pergunto: E os filhos no futuro serão de quem?

Serão só das mulheres (meninas)? O pai vai simplesmente chegar em casa depois do trabalho e não participar de mais nada? Onde fica a responsabilidade dos pais (que um dia foram meninos)?

Casa e filhos não é algo único e exclusivo da mulher (esposa) é do homem (marido) também. Ele é tão responsável pelo lar e pelos filhos quanto a mulher.

Não é ajuda, bem! É responsabilidade.

A mulher não produz uma criança por si mesma. Ela precisa do homem pra isso e vice-versa (porque nenhum ser humano se multiplica sozinho). Então, por que é só a mulher que é cobrada? Por que ela tem que tomar conta de tudo sozinha? Por que o peso maior fica sobre ela antes, durante e depois da maternidade?

Seus filhos não serão menos homens por brincar de boneca. Muito provavelmente eles serão homens melhores, mais responsáveis e pais de verdade. Serão homens que não vão fugir de compromissos.

Tudo é aprendizado. E quando a educação é orientada, é correta, é ensinada no tempo certo, o que vemos é um ser humano íntegro, respeitoso, sensível, sociável, responsável, e seguro de si.

O Vittor foi devidamente orientado e muito provavelmente tenha segurado um bebê de verdade em seu colo, pois ele sabia exatamente o que estava fazendo apesar de ser uma criança. Como segurar um bebê, dar a mamadeira, fazer a criança arrotar e dormir, ele também sabia como trocar a fralda.

E eu? Sempre o admirei. No tempo que fiquei com ele (o ano letivo) não houve um dia sequer que ele não tenha me surpreendido.

Eu certamente aprendi muito mais do que ensinei e fico feliz e grata por isso. ❤

QUEREM CASAR, MAS NÃO QUEREREM SER ESPOSAS OU MARIDOS. QUEREM TER FILHOS, MAS NÃO QUEREM SER PAIS.

A sociedade exige um status de relacionamento, de família. Cobra pesado por ele, mas ela nunca exigiu de fato a responsabilidade por ele.  

Você TEM que se casar, mas não necessariamente tem que SER esposa ou marido. Isso faz sentido pra você? Parece certo? Pra mim não. Casamento não é algo que se deve fazer por impulsividade, por paixão de momento, precisa ser consciente. Ou você acredita que ao casar tudo vai ser lindo e você será feliz para todo sempre? Oie! Acorda, bem! Casamento é convivência diária, é ajuste, é adaptação, é dinâmica, é parceria, é namoro, é unir forças pra continuar dando certo, é paciência pra compreender o outro. É sempre um ajudando e cuidando do outro. Não é só para os bons momentos da vida a dois, é para os maus também. Se você é uma pessoa individualista ao extremo, egoísta, impaciente, desinteressada pelo bem estar do outro, que não quer compromisso, que não reconhece seus erros e que não vai entrar num consenso com seu parceiro(a) na tomada de decisões, então casamento não é pra você. Não seja um fardo para o outro.

Você TEM que ter filho(s), mas não necessariamente tem que SER pai ou mãe. Como assim? Ué, não é só parir e jogar na creche ou na escola, não?! Não é só fazer o filho e pagar pensão, não? Ah-ra! Para sua surpresa e descontentamento não, não é assim tão simples! Não é só fazer um filho e “passar a bola” pra quem você bem quiser. Não é assim que funciona! Filhos precisam dos pais presentes em sua vida (tanto o pai quanto a mãe), precisam de apoio, de atenção, de cuidados. Precisam crescer num ambiente seguro, saudável, estável e aqui não estou falando que seja exclusivamente financeiro. É preciso ter dinheiro pra alimentação, pra medicação, pra vestimenta e outras coisas, sim! Mas você acha que basta ter só dinheiro que tudo se resolve? É claro que não! Se fosse assim rico não passaria por problemas. Seu psicológico, seu emocional precisam estar em boas condições também. Como você vai criar, educar uma criança se você não tiver paciência e maturidade pra isso? E paciência meu bem, é a palavra-chave quando se trata de criança!

Ah, temos TV e celular em casa! Sério? Vai passar a sua responsabilidade pra Peppa Pig, pra Galinha Pintadinha, pro Baby Shark ou pro Luccas Neto, é isso?

Ah, Paloma! Você fala isso porque não tem filho! O dia que tiver vai ver como é difícil! É por isso mesmo que filhos não podem vir de qualquer maneira… Porque é difícil. Porque nem sempre é como a gente pensa ou quer que seja. Gente, não é só colocar a criança no mundo, não! Olha o tanto de criança abandonada, desprotegida, rejeitada que vemos por aí! Não é só querer ter filho(s). É preciso aceitar toda a responsabilidade que vem junto. É a mãe e o pai trabalhando juntos pra criar não uma versão deles no mundo, mas uma versão melhor do que eles para o mundo que vive.

Não tem nada de errado com a pessoa que não quer casar ou ter filho(s). Também não é errado querer se casar ou ter filho(s). O problema mesmo está no TER sem SER. Eu tenho um casamento, mas não sou esposa ou não sou marido. Eu tenho filhos, mas não sou mãe ou não sou pai.

Nós precisamos ser mais conscientes, agir com mais inteligência e não viver só por um STATUS.

Do que vale o casamento se ele for só de aparência?

O que adianta ter filhos se você não os criar, os educar como se deve?

É como ter um diploma e não ser qualificado pra ele ou não exercer sua função. Só vai servir de enfeite. É só pra mostrar que tem.

É muito triste essa nossa falta de tato e noção para as coisas. É pior ainda quando cedemos a vontade de uma sociedade que é como um buraco negro engolindo tudo e não se satisfazendo com nada. Isso é o que torna a sociedade cada vez mais doente.

PROFESSORES E SUAS VIDAS FÁCEIS

Pra quem aí pensou que professor tem uma vida fácil se enganou feio! E muitos dos pais que ficavam revoltados achando que seus filhos nada aprendiam por causa dos professores, agora (por causa da pandemia) estão sentindo na pele o quão difícil é ensinar.

Se ensinar uma única criança é difícil, imagine-se numa sala de aula com 30 a 40 crianças. E cada uma é única. Cada uma tem um nível de aprendizagem diferente, personalidade diferente, educação ética e social (que vem de casa) diferente.

O professor não tem uma vida fácil e nem ganha o suficiente pra isso. E muitas vezes (pra não dizer quase sempre e quase todos) eles não recebem nem o mínimo de respeito que merecem. Já vi professor sendo humilhado em sala de aula pelo aluno, xingado, agredido fisicamente e sabe o que é pior? Alguns pais apoiam esse tipo de atitude. Eles sim são indefesos porque não podem revidar da mesma forma. Aliás não podem revidar de forma alguma. Se o fazem são monstros sem coração, sem piedade. Se não o fazem são covardes. Não existe defesa para o professor.

Essa é a sociedade em que vivemos. Direitos humanos? Direitos da criança e do adolescente? E onde está o direito do professor? O professor já não tem mais autoridade em seu próprio ambiente de trabalho. Ele é ridicularizado, desmoralizado pelos pais dos alunos e/ou pelos próprios alunos. O que aconteceu com a sociedade ao longo dos anos? Ganhamos a liberdade e perdemos o bom senso, é isso?

Em toda e qualquer época sempre há rebeldia e no meio educacional não é diferente. Porém, isso só revela que o fato desse aluno xingar, agredir, confrontar de forma abusiva o que lhe é ensinado, é apenas um reflexo do que ele vive. A educação primordial não é responsabilidade da escola, de um professor ou de um pedagogo. É dos pais, dos responsáveis por essa criança.

Aquela frase “Educação vem de berço” não é à toa. É daí mesmo que ela vem. São os pais ou responsáveis que devem ensinar sobre respeito, sobre conviver bem em sociedade, sobre a vida e suas diversas formas. A escola só reforça esses ensinamentos (sociais, morais, éticos) e adiciona a base curricular.

Não pense que a vida de um professor é fácil porque não é.

Eles precisam estar atentos as mudanças, precisam pensar em estratégias pra atrair a atenção dos alunos para que eles possam tirar o máximo de proveito da aula. Eles precisam ser criativos. Precisam se adaptar aos ensinos e as tecnologias que vão surgindo no cotidiano. Não é só pegar um livro e escrever no quadro. É preciso conhecimento pra isso.

Ensinar é trabalhoso, cansativo, dinâmico e ao mesmo tempo divertido, mas nem todo mundo tem habilidade pra isso.

Então, por favor, ensine seus filhos a terem mais respeito pelos professores! Não só porque eles merecem, mas porque é o certo.

Afinal, agora você está sentindo na pele que ensinar as matérias ao seu filho ou aos seus filhos 4h por dia de segunda a sexta não é assim tão simples e fácil como você imaginava, né?