ENGOLE O CHORO

Quantos de nós já não ouvimos ou até dissemos essa frase: “Engole o choro!”?

Frase imperativa, de ordem, de dor. Sim. Ela dói em quem a ouve. “Engole o choro”, “seja homem”, “seja forte”, “deixa de frescura”.

O choro é uma reação de algo que se está sentindo, logo, é uma emoção normal de qualquer ser humano. Ele deve ser tão livre quanto o riso. Deve ser expressado tanto quanto qualquer outra emoção.

Quando se “engole o choro” muitas vezes engolimos outras coisas. Crescemos acreditando que o choro é sinal de fraqueza e ninguém quer demonstrar suas fraquezas, seus medos, suas inseguranças, suas dores, não é mesmo?

Quem “engole o choro”, engole “sapos”, encobre dores, esconde os medos, encobre a raiva e as frustrações, sufoca a si mesmo para dar conta de tudo, para se fazer de forte na superfície e se torna uma pessoa ferida e vulnerável emocionalmente.

Deixe a criança livre para rir e para chorar também. Deixe ela expressar suas emoções, e a oriente, tente compreender, ensine, eduque, mas não a impeça de se expressar.

É difícil, eu sei. Eu mesma já disse muitas vezes “pare de chorar”, “você não tem motivos para chorar” ou pior…”vou te dar um motivo para chorar de verdade”. E também já ordenei: “Engole o choro!”. Mas quando eu me coloquei no mesmo lugar, lembrei o quanto dói. Lembrei que havia motivo sim para o choro.

Os adultos são mais difíceis de lidar do que as crianças. Eles já estão tão feridos que mal conseguem se lembrar da criança que um dia foram. Eles mal conseguem compreender a si mesmos, que dirá as crianças? Para nós, adultos, a ladainha é sempre frescura, é sinal de pirraça, e a gente não suporta e muito menos quer entender. A gente só quer silêncio e silencia a criançada.

A única coisa plausível de se engolir é remédio. As emoções não devem ser engolidas, elas devem ser expressadas e refletidas. O choro que a gente engole hoje vai se tornando uma casca grossa dentro do nosso coração, ferindo a nossa alma e silenciando os verdadeiros sentimentos.

Nos tornamos mentirosos. Não de forma proposital, mas por costume mesmo. Alguém pergunta: “Você está bem”? e eu e você como de costume respondemos: “Estou bem ou estou ótimo(a)”. Nem sempre estamos bem, mas não queremos que o outro nos veja chorar, que vejam nossas fragilidades e o quão vulneráveis nós estamos naquele momento. É uma mentira atrás da outra para encobrir os rastros da nossa própria miséria.

Um dia eu estava assistindo um filme chamado Divertida Mente, e pude compreender como cada emoção é importante. Como cada uma delas tem um propósito, uma utilidade. Eu me emocionei com esse filme. Recomendo a você, caso não o tenha assistido. Esse filme trás de forma simples a importância de ouvir a criança, de se permitir sentir as emoções ao invés de contê-las, confiná-las num canto escuro do coração.

Pense na criança que um dia você foi e evite dizer “engole o choro”. Permita sentir, chorar, se organizar e tentar entender. Permita que a criança ou até mesmo você se reestruture, se entenda, aprenda e cresça emocionalmente. ❤

Foto: Jep Gambardella

SEM BRINCADEIRA NÃO HÁ EDUCAÇÃO INFANTIL

“Em vez de deixá-lo estagnar no ar viciado de um quarto, que seja todo dia levado em meio a um prado. Lá, que corra, que brinque, que caia 100 vezes por dia, tanto melhor: aprenderá mais cedo a se reerguer.” (ROSSEAU)

Para muitos de nós, adultos, as brincadeiras são apenas um passatempo, uma diversão para as crianças e nada mais. Porém, é por meio delas que as crianças aprendem e se desenvolvem na sua totalidade como ser humano.

É brincando que a criança aprende. Logo, o lúdico, não se trata apenas de um entretenimento infantil e sim de uma forma divertida de ensinar e aprender. Isso é educação infantil. É o cuidado, é o deixar explorar, vivenciar e experimentar o mundo à sua volta. Isso é didático.

A educação infantil compreende uma faixa etária dos 0 aos 5 anos de idade. E toda fase do ser humano é importante, mas é na infância que tudo começa. É na infância que se molda o caráter, a personalidade, o intelecto, o social, o psicoemocional do indivíduo.

Sem brincadeira não há educação infantil. Porque é brincando que a criança aprende como reagir diante de um desafio, como negociar, como ler o mundo à sua volta, como se comunicar, como se expressar. Ela desenvolve seu pensamento crítico, sua capacidade de se relacionar socialmente, ela explora, ela imagina, ela cria e recria.

Brincar constrói conhecimentos. Traz equilíbrio emocional, estrutura o corpo (brincar estrutura e organiza o corpo da criança através de vivências e experimentações no meio). A criança aprende regras e com isso cria-se o respeito por elas e o controle da impulsividade.

Brincar desenvolve a linguagem. Cada vez que ela brinca, a criança se sente mais confiante, mais livre e feliz.

A criança que brinca tende a se tornar mais sociável, mais empática, mais consciente de si mesma e do outro. Então, o brincar não é um mero entretenimento, não serve só para passar o tempo, mas é uma forma de aprender e viver a vida. Uma forma de desenvolvimento físico, emocional, psicológico, intelectual e social do (e para o) indivíduo.

Deixe a criança brincar! Deixe que ela corra, que explore, que caia e que aprenda a se reerguer! A criança tem seus próprios pensamentos, sua própria forma de ver o mundo e ela também precisa de liberdade para aprender.

Roupa suja? A gente lava. A tinta espalhada? A gente limpa. A parede riscada? Pode passar tinta que fica nova de novo. Mas como a gente se comporta diante da criança, se a gente educa ou somente repreende toda hora é que faz a diferença na vida dela. Você corrige ou reprime? Você quer educar ou apenas dizer não sem explicação?

Moldar o caráter, a personalidade, permitir o desenvolvimento social, emocional, intelectual, permitir a imaginação e a criatividade, brincar de forma livre e/ou orientada é o que realmente importa para que a criança cresça saudável e feliz.

A bagunça dá pra limpar e organizar e nada disso é tão importante quanto o tempo de qualidade dedicado as crianças, as oportunidades apresentadas a elas e o sua forma de ensinar, de se relacionar e se comunicar com elas.

As fases da vida não voltam, elas passam e quase sempre num piscar de olhos. Então, saiba aproveitar cada momento junto, cada brincadeira, cada conquista, cada cair e levantar, pois o tempo passa, mas as experiências permanecem no coração e na mente das crianças. Aproveite! Viva! Ensine sim, mas saiba ouvir e aprender também!

Deixe as crianças serem o que são… Crianças!

Deixe as crianças fazerem o que de melhor fazem… Brincar e aprender!

Pense na criança que um dia você foi e ressignifique o adulto que hoje você é. ❤

Foto: Tatiana Syrikova

MUDAR OU SE REVELAR

Pra você as pessoas mudam ou apenas se revelam com o tempo?

Pra mim essa pergunta é o mesmo que perguntar se alguém nasce com a psicopatia ou se torna psicopata. E eu considero as duas possibilidades. Pra mim a pessoa pode nascer ou se tornar assim. Como também uma pessoa pode mudar ao longo dos anos ou apenas se revelar.

Há muitos acontecimentos na vida humana desde sua concepção até o fim de sua vida que vão somando e moldando os traços de seu caráter, sua personalidade e deixando uma marca significativa na sua alma. Formando assim sua identidade.

Não é só genética. Existem diversos fatores, inclusive o próprio ambiente, que são como um estopim para o caos acontecer. A criança que vive num ambiente desestruturado, sem correção pelos atos errados, sem receber o carinho, a atenção dos pais (da família), que cresce vendo e vivendo a violência de todas as formas, essa criança tem a maior probabilidade de se tornar um adulto apático e violento se não houver uma intervenção adequada na sua infância. Em geral, crianças costumam repetir o que veem e refletir o que vivem. Se elas não são devidamente ensinadas e corrigidas quando é necessário, elas não aprendem a discernir o que é certo e o que é errado.

Quando eu vejo alguém fazendo o bem, fazendo o que é bom eu não acredito que seja uma boa pessoa pura e simplesmente. Porque eu não acredito que nós possamos ser 100% bons ou 100% maus o tempo todo. Existe predisposição, tendência, disciplina e reeducação. Eu acredito que ela aprendeu a discernir o que é certo e o que é errado e escolheu fazer a coisa certa, a atitude que valorize o respeito e a vida. Ela aprendeu e desenvolveu a empatia.

Mas e aí, as pessoas mudam ou apenas se revelam? As duas coisas.

Uma pessoa pode se revelar porque cansou de tentar ou querer agradar todo mundo ou porque quer mostrar quem de fato ela é. Mas também pode mudar. Pessoas, o ambiente, o próprio tempo e outros fatores podem e vão influenciar qualquer ser humano. É natural que transformações aconteçam. Mudanças levam tempo, gastam energia, partem do princípio da pessoa querer dar o primeiro passo rumo à mudança que ela deseja.

A mente humana é tão complexa que existe algo chamado de reprogramação mental, ou seja, você pode reprogramar seu cérebro, sua própria mente. Quando se quer abandonar um vício, quando quer perder o medo de algo, quando quer avançar profissionalmente, quando quer se tornar uma pessoa melhor. O ser humano é tão único que ele tem o poder de escolha. Nós somos os únicos seres com a capacidade de escolher racionalmente, conscientemente o que queremos (ser, fazer, viver, acreditar, etc). O ser humano é o único que pode escolher ser excepcionalmente bom ou mau. Pode escolher fazer o bem ou mal.

Claro, há casos e casos! Mas dizer que “Eu nasci assim e vou morrer assim” ou “Pau que nasce torto nunca se endireita” é de certa forma ilógico porque mudanças vão acontecer não apenas com você, mas na sociedade em que vive. É como se você tivesse a oportunidade de se “transformar em diamante”, mas constantemente preferisse ficar na sua “forma de carbono”. E uma pessoa pode se endireitar se tiver uma intervenção adequada. Não é uma tarefa fácil, mas não é algo impossível. Em casos mais agravantes aí cabem outras medidas, mas em geral, todo ser humano é passível de mudanças. Passado, presente e futuro são tempos diferentes, mas não deixam de ser tempo. Assim como quem você era, quem você é e quem você será são formas diferentes, mas você não deixa de ser você. É uma lapidação ao longo dos anos. É uma transformação em busca da própria identidade.