EU GOSTO DE VOCÊ

Eu estava insegura, afinal, não nos conhecíamos. Era um aluno novo e eu não tinha muitas informações sobre ele.

Eu já lido com crianças há algum tempo, mas isso não significa que sei tudo sobre elas ou que não me sinto insegura em alguns momentos. Cada criança é única. Elas têm sua própria identidade, personalidade, pensamentos, emoções e sua forma de aprender.

Ele é autista, mas isso não é um defeito, é apenas sua condição. Ele é incrível. Gosta de interagir com todos a sua volta, é participativo nas aulas, muito carinhoso e reconhece quem gosta ou não dele. É inteligente, obediente, sincero, gentil e alegre.

Certo dia ele disse que estava cansado e queria dormir, então eu disse que podia abaixar a cabeça na carteira e dormir um pouco, pois já tinha terminado as atividades. Ele não sabe, mas justamente nesse dia eu também estava cansada (física e mentalmente) e sentindo que não estava fazendo a menor diferença. Foi quando ele agarrou o meu braço e colocou em sua mesa e se deitou sobre ele. Depois ele olhou pra mim e disse: “Eu gosto de você”.

Você gosta de mim? – Sim, ele disse. Voltou a deitar e cochilou por uns 10 minutos sobre o meu braço.

Ele já tinha demonstrado várias vezes que gostava mesmo de mim, me abraçando, segurando minha mão, me dando “beijinho de esquimó” no rosto e me procurando pela escola quando eu demorava a voltar pra sala ou se ele percebesse que estava indo em algum lugar sem ele. Mas até então não tinha usado as palavras. Isso me surpreendeu.

As crianças sabem quando são amadas, são bem acolhidas, sabem onde procurar consolo, conforto, carinho e segurança. Nós somos esse “porto seguro” para elas. Representamos proteção e cuidado. Isso também é educar.

A frase “Eu gosto de você” foi dita a mim por um garoto autista (TEA) de 8 anos que mal me conhecia, afinal, ele chegou recentemente na escola. E ele disse de forma espontânea e olhando diretamente pra mim. Essa sem dúvida foi a frase mais forte e linda que ouvi esse ano.

São essas pequenas coisas que além de aquecer o meu coração me faz acreditar que estou no lugar certo, que estou fazendo algo bom e que ainda que pareça tão pouco, eu contribuo sim no seu desenvolvimento escolar, social, emocional e psicológico.

Ele já me chamou de parceira. E é isso mesmo! Somos parceiros. Um ajudando o outro a se desenvolver, a ser cada dia melhor e a fazer o melhor que a gente pode.

Caminhar é assim mesmo… Um passo de cada vez. É assim que construímos histórias.

Foto: Tara Winstead

A IMPORTÂNCIA DE UM ABRAÇO

Em tempo de Coronavírus o mínimo contato pode ser perigoso.

Nunca um abraço foi tão desejado como nos dias de hoje. O que revela a fragilidade da existência humana. Sim, somos vulneráveis a doenças, mas não somente a elas. Somos vulneráveis aos desejos, aos pensamentos e as emoções. Ontem, o abraço era somente em sinal de cumprimento e quase sempre bem rápido. Hoje, a falta dele tem deixado muitas pessoas em profunda tristeza. Querem tocar, segurar, sentir, abraçar por mais tempo a pessoa amada, amiga, mas não podem. Agora entendem que o excesso ou falta de algo é realmente prejudicial à saúde.

As pessoas estão isoladas em suas casas e algumas clamando por misericórdia, para que esse caos se dissipe. Querem voltar para a vida corriqueira que se acostumaram. A pandemia deixou a população quase que em estado de inércia. Saem em caso de extrema necessidade e voltam com medo.

Nunca a vida foi tão preciosa como agora.

Antes a corrida contra o tempo era para cumprir horários, prazos no trabalho,  na faculdade, no cursinho. Todos estavam ocupados demais. Faltava tempo pra família, para os amigos, pra si mesmo.

Precisou um novo vírus chegar pra humanidade perceber que todos são dependentes uns dos outros de alguma forma e que diante de uma enfermidade ou até mesmo da morte somos todos iguais… Frágeis como papel. Perecíveis como quase tudo deste mundo é.

Tenha calma! Não se desespere porque tudo isso vai passar.

Apesar de todo esse caos estar acontecendo no mundo continue acreditando no futuro. As estatísticas revelam a seriedade do problema, eu sei. Mas, por favor, pare de focar só na parte ruim dela. Ela mostra infectados, casos suspeitos, mas também os que já se curaram. Então, tente ver o lado bom dessa crise toda! Otimismo e bom humor ajudam a elevar a imunidade, sabia disso?

Hoje, nós temos mais daquilo que tanto queríamos antes dessa pandemia… Tempo.

Tempo para curtir a família em casa. Tempo para aprender algo novo ou quem sabe até criar algo novo. Tempo pra refletir sobre nós mesmos. Tempo para cuidar da saúde no conforto de casa sem ter que gastar muito. Dá pra se divertir, aprender, trabalhar e ser feliz em casa também.

O abraço físico é importante, mas existem outras maneiras de demonstrar carinho, respeito e solidariedade.

A vida é frágil, suscetível a qualquer ameaça iminente e é exatamente por isso que ela é tão preciosa.

Embora frágil, a vida não segue roteiros. E diante de um desafio ela sempre recalcula sua rota porque o seu maior objetivo não é se estagnar, é se superar, se tornar cada vez mais resiliente.

Há sempre uma chance de recomeçar. ❤

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Foto: Helena Lopes